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TRANSPARÊNCIA OPACA

O governo do Estado é obrigado, por força da lei 9155/95, a divulgar os dados trimestrais da criminalidade no Estado de São Paulo até trinta dias após o fechamento de cada trimestre.

No final do ano passado chegou à imprensa a denúncia de que o governo estava manipulando os dados da violência – caso conhecido como maquiagem dos boletins de ocorrência – através de ordem dada aos delegados de polícia para alterar o preenchimento dos boletins de ocorrência. Dessa forma, homicídios e chacinas eram registrados como encontro de cadáver ou morte a esclarecer, dando a falsa impressão de que os índices de homicídio estavam caindo.

Para se ter uma idéia da maquiagem, ao compararmos os dados de homicídios, de latrocínio e de policiais Civis e Militares mortos em serviço e civis mortos por policiais Civis e Militares, divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Estado e os dados do PRO-AIM – Programa de Aprimoramento das Informações de Mortalidade no Município de São Paulo, órgão da Prefeitura Municipal de São Paulo e vinculado à Secretaria Municipal de Saúde – no primeiro trimestre de 2001 houve 3.380 homicídios no município. Já os dados da Secretaria de Segurança Pública apontaram 2.932 casos, ou seja, uma diferença de 15,27% menor que a realidade.

Diante da denúncia e de um documento que chegou ao meu gabinete –reforçando a tese da maquiagem da criminalidade – protocolei, no final do ano passado, na Assembléia Legislativa, um pedido de abertura de CPI – Comissão Parlamentar de Inquérito – para apurar a denúncia da maquiagem dos boletins de ocorrência.

Os fatos obrigaram o então Secretário de Segurança a depor na Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa. Na ocasião o então Secretário não conseguiu convencer a maioria dos deputados, o público e a imprensa presentes.

Na tentativa de mostrar transparência nos índices divulgados pela Secretaria, o Governo publicou, em 28 de dezembro, a Resolução SSP – 463 que cria o Conselho de Acompanhamento de Estatísticas Policiais – CAEP – sob o argumento de confiabilidade, acesso a informações, aprimoramento e transparência das estatísticas. Este Conselho deveria trabalhar junto ao gabinete do Secretário e ao CAP – Centro de Analise e Planejamento – e teria a participação de várias entidades de renome e prestigio como: IBCCrim – Instituto Brasileiro de Ciências Criminais; ILANUD – Instituto Latino Americano das Nações Unidas para Prevenção do Delito e Tratamento do Delinqüente; Fundação SEADE; USP – Universidade de São Paulo; Instituto sou da Paz e FIESP – Federação das Indústrias do Estado de São Paulo. O Conselho teria ainda caráter consultivo, opinativo e atribuições de acompanhar e conhecer os procedimentos metodológicos, debater e sugerir ao secretário aperfeiçoamento dos dados e inspeção de documentos e relatórios. O grupo se reuniria bimestralmente para discutir as referidas atribuições.

Mais uma vez o Governo vem nos mostrar sua falta de respeito, não somente com os cidadãos e cidadãs de nosso Estado, mas também com as organizações acima citadas. A divulgação das estatísticas criminais do último trimestre de 2001 – nos moldes da Lei 9155/95, como citei no começo – deveriam ter sido divulgados no início de fevereiro deste ano. Mas a divulgação só ocorreu dois meses após o prazo legal, no último dia 12 de abril, depois de eu ter declarado que entraria com uma representação junto ao Ministério Público e de a imprensa ter feito muita pressão.

Quanto ao Conselho de Acompanhamento das Estatísticas, que foi criado pelo próprio governo, ainda não realizou nenhuma reunião, ou seja, não saiu do papel.

Outros dois organismos que funcionavam a mais de um ano também estão inativos: a Comissão Especial para a Redução da Letalidade em Ações Policiais, com a finalidade de estudar a morte de civis pela polícia, e o Conselho Interdisciplinar de Segurança formado por entidades e pesquisadores para discutir a violência.

Diante do exposto não resta dúvida do desprezo do governo frente ao interesse de entidades e da sociedade civil em colaborar na questão da segurança pública.

Em meio a tanta violência que assola nosso Estado, onde vivemos uma verdadeira guerrilha urbana, o descaso com entidades e com a sociedade civil, o aumento desenfreado da violência, além da tentativa de manipular os dados da criminalidade, gera uma opacidade na transparência que este governo vem anunciando.

Depois de quase oito anos no poder, atitudes como estas de “melhorar a qualidade de vida das pessoas”, através de manipulação de dados, somente vem a confirmar a ineficiência e a falta de políticas públicas de quem se diz transparente e social.

 

Vanderlei Siraque é Deputado Estadual pelo Partido dos Trabalhadores, membro da Comissão de Segurança Pública da Assembléia Legislativa e Coordenador do Programa de Governo do PT na área da Segurança Pública.

 

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Fabio Taroda