Intolerância: A marca da violência
nas escolas
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Artigo publicado no
jornal Diário do Grande ABC, no dia 13 de maio de 2001.
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Após reuniões com diretores de escolas públicas
estaduais da região do ABC, para tratar sobre a violência nas escolas,
organizei uma Audiência Pública para aprofundar mais o assunto e
propor algumas ações. Realizada no dia 4 de maio, na cidade de Santo
André, teve a presença de mais de 300 pessoas, entre dirigentes
de escolas, professores, pais e alunos, além de comandos das polícias
civil e militar do Estado de São Paulo e instituições ligadas à
área da educação.
Ouvi de tudo nessa Audiência,
desde reclamações, sugestões e perguntas relacionadas à violência
nas escolas até críticas de aluno para diretor, de professor para
aluno e de pai para professor. Isso permitiu, de fato, observar
a realidade nua e crua das escolas estaduais. Posso dizer que a
marca dessas escolas são a intolerância, a falta de comunicação
e respeito entre os atores e a irresponsabilidade das autoridades
responsáveis pela educação no Estado.
Mas por que há tanta intolerância?
Porque não existem cursos de qualificação gratuitos, porque os salários
dos profissionais da educação são ridículos e os módulos escolares
estão incompletos e ineficazes.
Outro problema é que muitas escolas
não possuem grêmios estudantis e conselhos de escolas, agentes fundamentais
na discussão de melhorias no ensino público.
A presença do autoritarismo e
a ausência de integração entre a escola e a comunidade só contribuem
para agravar esse quadro. Além disso, muitos professores exercem
as funções de psicólogos e assistentes sociais, sem estarem preparados
para isso. E pior, os alunos percebem que a escola é uma mentira,
que não é um espaço para o exercício da democracia, da politização,
da conscientização, enfim, da garantia de um futuro melhor.
Observei que a maioria das escolas
está partidarizada e pouco politizada, pois sua direção representa
o partido que está no governo. E mesmo sabendo que a maioria dos
seus projetos não vai de encontro com a solução dos problemas, mantêm-se
fiel a uma estrutura falida e autoritária, muitas vezes movida por
desejo de manutenção do micro poder ou medo de enfrentar a realidade.
Assim, constatei que essa violência
não é apenas um caso de polícia, mas antes de tudo da intolerância
entre os envolvidos. Porém, não estamos negando com isso que a ausência
do Estado no campo da educação e da segurança pública não faça parte
do problema. A inoperância do Estado faz com que traficantes e outros
criminosos se apropriem da função de gerir as escolas, ocupando
o espaço que deveria ser do Poder Público.
Diante de todos os problemas apresentados,
fiz algumas propostas, que vou lutar para que sejam postas em prática,
para ajudar no combate a esse tipo de violência: criação de mecanismos
internos nas Diretorias de Ensino para integração dos profissionais
da educação; integração entre os alunos, através do fortalecimento
dos grêmios estudantis e das UMES, União Municipal de Estudantes
Secundaristas; integração entre a escola e a comunidade, através
da aplicação das leis 10.522/00 e 10.312/99 e do fortalecimento
dos conselhos de escolas; criação de equipe multidisciplinar com
psicólogos e assistentes sociais para ajudar nas dificuldades dos
alunos, das suas famílias e mesmo dos profissionais da educação;
treinamento de equipes das polícias civil e militar para enfrentar
a violência nas escolas, quando o caso for de polícia, sem a geração
de mais violência; mudança do modo de agir dos atores envolvidos
(alunos, autoridades de ensino e comunidade), pois não há transformação
sem mudança de comportamento.
Acredito que coloquei o dedo na
ferida, porém não para arruiná-la, mas para curá-la! E essa cura
só virá com a integração dos diversos setores envolvidos na questão,
com o controle social da escola pela comunidade e através da responsabilização
das autoridades competentes.
Vanderlei Siraque é
deputado estadual pelo PT e membro da Comissão de Segurança
Pública da Assembléia Legislativa do Estado de São
Paulo.
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