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A Importância do Vereador

Edinho Silva
Presidente do PT-São Paulo

Fui vereador por dois mandatos e prefeito por dois mandatos. Me elegi prefeito saindo da Câmara. A maior escola para me eleger prefeito foi a Câmara de Vereadores, não tem escola melhor para conhecer uma cidade, conhecer os problemas da população e as soluções para os mesmos.

O vereador é o primeiro contato com a sociedade. Às vezes, o cidadão vai até a Prefeitura para falar com secretários, para falar com o próprio prefeito, mas acaba não tendo a devida atenção, dependendo do porte do município. Os problemas acabam, portanto, batendo na porta do gabinete dos vereadores, que acolhem a demanda, inevitavelmente.

Devido a esta dinâmica, os vereadores acabam tendo um contato mais direto com a sociedade, acabam conhecendo de forma detalhada os problemas do município. No meu caso, esta experiência me deu condições de disputar uma eleição para prefeito com grande conhecimento a respeito dos problemas que a cidade enfrentava.

Durante a campanha eu falava detalhadamente dos problemas da cidade, conhecimento que meus concorrentes não possuíam.

Fui vereador de oposição por oito anos e depois prefeito. Evidentemente, vivendo uma experiência de quem está do outro lado, no Executivo.

Quero dizer para vocês que a pior coisa que existe é ser vereador de oposição. Não apenas porque o vereador de oposição vive de pão e água, mas porque a arte de construir a oposição é extremamente difícil. O vereador de oposição precisa pressionar o projeto do prefeito, porque são projetos diferentes, mas não pode ser um posicionamento que o distancie da sociedade, ou que você venda a cidade de uma forma que a população começa a questionar sua postura.

O vereador de oposição precisa mostrar que representa outro projeto, mas não pode cair no isolamento. Não falo de isolamento na Câmara, falo do isolamento na sociedade. Fiquei meus 8 anos como vereador isolado na Câmara, os vereadores não aprovavam nem requerimento meu.

Eu me dirigia à Tribuna para falar, todos os vereadores se retiravam do plenário em boicote, pelo fato de ter pedido abertura de uma sindicância em função de umas compras realizadas pela Mesa da Câmara. Quando a gente vai para uma fiscalização intracorpos a reação é pior do que fiscalizar o prefeito.

O vereador de oposição precisa buscar o ponto de equilíbrio entre o projeto que ele defende e a forma de criticar e como criticar o projeto do prefeito a que ele se opõe. A relação que o vereador oposicionista estabelece com a sociedade é fundamental para ganhar credibilidade.

Sempre acreditei que a atividade de vereador possui dois pilares: primeiro, a arte de legislar; segundo, a organização social. Se o vereador conseguir construir esses dois pilares, não tenho dúvida de que ele será um belo parlamentar.

Conhecer o Regimento Interno, saber formular requerimento, elaborar bons projetos de lei, saber fiscalizar, são atividades que o vereador não deve abrir mão.

A segunda é organizar e mobilizar a população. Portanto, o vereador conhece a arte de governar, mas também tem lastro na sociedade, está em contato com a sociedade, ele participa efetivamente da vida da sociedade.

Tudo em nossa vida precisa passar por um planejamento. O mandato também necessita de um bom planejamento. O vereador precisa saber estabelecer prioridades, pois, dependendo do porte da cidade, o mandato do vereador não chega a todos os bairros.

Ele pode dialogar os problemas gerais da cidade, mas precisa escolher aquela região que pretende ter raiz, base organizada, estabelecer de fato uma base social. No planejamento, o parlamentar pode definir em quais áreas pretende ser autoridade para fazer o debate.

A tendência é o vereador querer abraçar a cidade inteira, especialmente vereador de primeiro mandato, falar de tudo, atacar a cidade inteira. Aí tende a ter um mandato disperso. Já vi parlamentares brilhantes não se reelegerem por falta de planejamento destas questões.

Muitas vezes a gente acha que aquilo que falamos na Câmara é escutado pela cidade inteira, e não é verdade. O cidadão comum só se volta, ou só foca na política, durante o processo eleitoral. Você faz um discurso coerente, inflamado e com conteúdo, mas pouquíssimas pessoas ficarão sabendo do que você tratou.

A gente tende a pensar que o centro da cidade é a Câmara. O centro das coisas para as pessoas é a saúde, o emprego, a educação, a creche... E nem sempre o assunto que julgamos.

O vereador precisa ter uma política de comunicação para com a cidade, pode ser um informativo simples, mas é importante prestar contas do mandato. Lembrar que o eleitor existe.

O vereador de situação tem mais facilidade de ver seus pedidos atendidos, mas se não tiver um trabalho forte na sociedade, tende a desaparecer. Como ele vai estar alinhado com o prefeito, não vai ter visibilidade na crítica, na denúncia.

O vereador de situação fica sempre na sombra do governo. Ele só sobrevive se tiver muita organização social e se também conquistar autoridade na defesa de alguns temas.
Com relação aos prefeitos, temos normalmente duas características: todo prefeito quer compor a maioria na Câmara, caso contrário, não governa.

Tem um tipo de prefeito que busca a maioria de forma mais habilidosa, e tem um tipo de prefeito que pretende buscar a maioria através da truculência. A tendência deste último é tratar o vereador a pão e água, não anuncia e não saúda o vereador presente nos eventos da cidade etc.

O primeiro tipo de prefeito busca compor a maioria utilizando-se de forma mais republicana. Reconhece o papel da Câmara, é cordial com todos os vereadores.

Buscar a maioria é fundamental para qualquer prefeito. O vereador pode ser o equilíbrio entre os Poderes.

Como prefeito, trabalhei para ter o melhor relacionamento com os vereadores, pois o prefeito precisa da Câmara. A arte de governar é a arte de buscar apoio junto aos vereadores, dada a importância do papel que os mesmos ocupam. O prefeito precisa buscar a governabilidade na Câmara e também junto à sociedade.

Concluindo: a Câmara é a grande escola da política. É muito mais difícil ser vereador de oposição do que de situação. Se valorizem enquanto vereadores, pois o prefeito não faz nada sem a atuação dos vereadores.

 
 

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