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Diário do Grande ABC - 06 de outubro de 2001

Grande ABC discute a violência escolar

Samir Siviero

A mesa-redonda promovida pelo Diário na última quinta-feira na sede da Acisa (Associação Comercial e Industrial de Santo André) discutiu a crescente onda de violência nas escolas públicas e foi o primeiro evento do projeto Novos Caminhos Diário. A intenção da campanha é levar ao debate as questões do cotidiano do cidadão do Grande ABC de forma dinâmica.

O projeto Novos Caminhos Diário debaterá os temas mais relevantes no momento em que acontecem com os personagens envolvidos e autoridades responsáveis. A cada mês, pelo menos um encontro será realizado para discutir um tema importante de qualquer área para o cidadão da região.

O encontro de quinta-feira passada resultou em algumas propostas para tentar coibir a violência nas escolas públicas da região. Entre as sugestões apresentadas estão o fechamento de bares e fliperamas vizinhos a escolas e a criação de uma ampla comissão com representantes do Estado, dos municípios, dos professores, diretores e polícias Civil e Militar, que se reuniria freqüentemente para estudar ações conjuntas para a educação.

Apesar de o governador Geraldo Alckmin ter afirmado no sábado passado que pediria à secretária de Educação, Rose Neubauer, para participar do evento, ela não compareceu. Em seu lugar, veio a assessora de gabinete Marileuza Moreira Fernandes, para representá-la. O Departamento de Educação e Cultura de São Caetano também não respondeu ao convite feito à diretora Maria Helena Cadioli, que não compareceu.

A integração entre as secretarias municipais e estadual de Educação também foi apontada como um dos principais passos para diminuir a violência nas escolas, assim como a abertura das unidades de ensino à participação da comunidade em suas atividades.

Para alguns educadores, a forma como o sistema de progressão continuada foi implementado e a readequação dos alunos, que colocou estudantes do ensino médio e do fundamental em unidades diferentes, influenciaram no aumento da violência nas escolas.

"Hoje vivemos um momento em que a maioria da população está dentro das unidades de ensino, e não podemos simplesmente aumentar grades e muros e transformar a escola em uma redoma. O programa da secretaria visa incluir o aluno e mantê-lo na escola. Além disso, há projetos para levar a comunidade para dentro das escolas para proporcionar lazer e cultura. Ao mesmo tempo, a secretaria tem feito reuniões com a Secretaria de Segurança Pública para discutir formas de impedir que a violência ocorra na escola", disse Marileuza Fernandes.

O assessor do Consórcio Intermunicipal do Grande ABC, Carlos Augusto César, Cafu, propôs a criação de uma comissão entre representantes das secretarias municipais e estadual para discutir os problemas em comum sobre educação. "A secretária estadual deveria vir mais à região para conversar com os secretários municipais."

Os representantes ainda sugeriram a formação de uma equipe multidisciplinar para acompanhar os problemas que acontecem cotidianamente em cada escola, e que não devem ser resolvidos por professores. "As escolas deveriam completar seu quadro de funcionários com a contratação de mais inspetores de aluno, por exemplo, mas deveria ter um grupo de psicólogos e assistentes sociais para tratar de assuntos específicos", afirmou o deputado estadual Vanderlei Siraque (PT).
"O professor também precisa de auto-estima, precisamos nos sentir bem na escola. O trabalho com o chamado 'aluno problema' não deve ser de competência do professor, mas sim de profissionais como psicopedagogos", disse a coordenadora da Apeoesp (Sindicato dos Professores de Ensino Oficial do Estado) de São Caetano, Vera Severiano.

O coronel José Roberto Crisóstomo, comandante da Polícia Militar na região, afirmou que tanto a PM quanto a Polícia Civil estão preocupadas com a violência interna e externa às escolas. "É preciso retirar bares e fliperams de perto das escolas. Pois esses lugares levam o estudante ao consumo de bebidas e drogas, que geram violência", disse o comandante.

Principais propostas

- Fechamento de bares e fliperamas próximos a escolas
- Criar um fórum de debates entre autoridades de ensino que se encontrem freqüentemente para discutir temas de interesse geral
- Abertura do espaço físico das escolas para a participação da comunidade em atividades educacionais e físicas
- Rever o sistema de progressão continuada e distribuição dos alunos nas escolas de acordo com o grau de estudo
-Criar grupo de profissionais multidisciplinar - psicólogos, psicopedagogos e assistentes sociais - para trabalhar nas escolas
- Estudar projetos de grupos de pesquisa sobre violência para colocá-los em prática
- Divulgar experiências que diminuíram a violência nos locais aplicados
- Aplicar atividades diferenciadas de acordo com a região ou comunidade, como o hip hop
- Aproximar secretarias municipais e estadual nas discussões sobre o programa educacional
- Comunicar o Conselho Tutelar sobre ocorrências nas escolas e procurar mais diálogo com as polícias Militar e Civil
'Escola não é mais território neutro'

Do Diário do Grande ABC

Salas superlotadas, falta de comunicação entre Estado e prefeituras e ausência de estrutura para trabalhar com os alunos violentos foram alguns dos pontos apontados pelos presentes para justificar o aumento da violência dentro das escolas.

"Até pouco tempo, a escola tinha sido preservada da violência e era considerada um território neutro. Só que o aumento da pobreza gerou a violência, que agora chegou à escola, e isso é um problema educacional. Em Diadema, as escolas municipais que abrimos para a comunidade participar de atividades são menos agredidas", disse a secretária de Educação de Diadema, Lizete Arelaro.

A secretária de Educação de Ribeirão Pires, Neusa Nakano, apontou a superlotação das classes como um problema para os professores trabalharem com os alunos. "Algumas salas de aula têm até mais de 50 alunos."

O delegado seccional de Diadema, Reinaldo Corrêa, acredita que os diretores de cada escola devem tratar os policiais como parceiros no combate à violência. "Em Diadema, o grupo que estuda as causas da violência foi impedido de entrar em algumas escolas. Além disso, tanto diretores quanto professores têm medo de chamar a polícia quando acontece alguma agressão dentro da escola. Isso atrapalha nosso trabalho e impede uma interação."

Para o conselheiro da Apeoesp de São Bernardo, Paulo Neves, a separação dos alunos do ensino fundamental e médio em escolas diferentes, também levou ao aumento da violência. "A partir dessa separação houve um crescimento acentuado da violência nas escolas, porque juntaram estudantes de diferentes tribos em uma só escola", afirmou.

O secretário de Educação de Mauá, Luiz Roberto Alves, foi representado pelo assessor José Lourenço Pechtoll, que leu uma carta com propostas para superar a violência. A coordenadora da Aesp (Associação de Escolas Particulares do ABC), Oswana Fernandes Fameli, também apontou a criação de um fórum de discussões para ajudar a resolver os problemas das escolas. A secretária de Educação de Santo André, Cleuza Repulho, segue a mesma linha de raciocínio de Oswana, mas acredita que há um exagero da imprensa na divulgação dos casos.

A coordenadora da Apeoesp de Mauá, Osória de Oliveira, disse que houve autoritarismo da Secretaria Estadual ao implementar as mudanças no sistema escolar. "A secretaria não ouviu ninguém. Além disso, hoje faltam inspetores, porteiros e vigias. A escola não é uma ilha e a violência chegou até ela", disse Osória.

"Uma das mudanças que deve ser repensada rapidamente é a colocação de estudantes de 5ª e 6ª séries à tarde. Nesse horário, eles são alvo fácil para traficantes", afirmou a coordenadora da Apeoesp de Diadema, Ivanci Vieira dos Santos.

Para o secretário de Educação de São Bernardo, Admir Ferro, quanto mais ações e oficinas culturais chegarem aos estudantes, menos violência haverá. O secretário de Rio Grande da Serra, Donizeti Garcia, disse que as condições das escolas devem ser revistas.

A representante da Secretaria Estadual, Marileuza Fernandes, acredita que os professores não são apontados como culpados e sugeriu que as experiências que tiveram sucesso no combate à violência devam ser divulgadas para servir de estímulo. Quanto à violência nas escolas, Marileuza disse que os professores e diretores devem comunicar o Conselho Tutelar e a polícia. "A secretaria está aberta e se coloca à disposição para outras discussões."

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Fabio Taroda